O que pode facilitar a comunicação com os tutores sobre as escolhas alimentares de seus animais de estimação? As atitudes dos tutores de cães e gatos diferem em relação às práticas alimentares? Como ajudar a dissipar as preocupações e ajudar na negociação de quaisquer modificações dietéticas?
Frequentemente surgem circunstâncias em que uma alteração no manejo alimentar possa ser mais interessante para a saúde do pet. Um exemplo muito comum é quando ele está recebendo uma dieta desbalanceada, composta por alimentos industrializados e caseiros, influenciando significativamente sua condição corporal, de forma a deixá-lo com sobrepeso ou obeso. Entretanto, a comunicação com os tutores sobre nutrição ou manejo alimentar pode ser bastante difícil, especialmente quando o objetivo for persuadir os tutores para alterar a alimentação dos seus pets. Assim, para que a comunicação em relação à nutrição seja bem-sucedida e, portanto, convencê-los a seguir a prescrição nutricional, é importante compreender “com o que” e “como” eles escolhem alimentar seus animais de estimação, bem como os comportamentos e atitudes que influenciam suas escolhas.
Sabe-se que o tutor desempenha, necessariamente, um papel ativo na determinação da dieta de seu pet. No entanto, suas escolhas podem ser influenciadas por vários fatores, incluindo seu conhecimento das necessidades nutricionais do pet, suas percepções sobre o valor nutricional, salubridade e segurança dos ingredientes da ração, seus pensamentos sobre a indústria pet food, e suas fontes de informação sobre nutrição e manejo alimentar.
Em um estudo sobre as atitudes dos tutores em relação aos alimentos e ao manejo alimentar de cães e gatos, foi possível verificar que existe uma associação entre as preocupações com os alimentos comerciais para pets (commercial pet food) e a prática de oferecer quantidades substanciais de alimentos preparados em casa (home-prepared food). Em geral, os tutores que ofereciam alimentos não comerciais, em pelo menos 50% da dieta de seus pets, como refeições preparadas em casa, sobras de comida ou outros alimentos preparados para consumo humano, tiveram mais preocupações e receios sobre alimentos comerciais, processo de fabricação e indústria pet food, do que os tutores que ofereciam alimentos comerciais em pelo menos 75% da dieta de seus animais de estimação. Além disso, a proporção dos tutores que ofereceram pelo menos 50% da dieta proveniente de alimentos não comerciais, foi maior entre os tutores de cães, enquanto a proporção dos que ofereceram alimentos comerciais em pelo menos 75% da dieta, foi maior entre os tutores de gatos.
Assim como também percebemos na prática, esse estudo nos mostra que o oferecimento de sobras de refeições, alimentos crus, petiscos dos mais variados tipos ou outros alimentos preparados para consumo humano é parte da dieta de um número substancial de animais de estimação, principalmente dos cães. Isso, muitas vezes, pode ser reflexo das dúvidas que esses tutores têm sobre alimentos industrializados ou, até mesmo, do processo fabril desses alimentos. Muitos desses tutores desconhecem que décadas de pesquisa em nutrição de cães e gatos e processos de fabricação melhoraram drasticamente a qualidade dos alimentos industrializados para pets e, com isso, a saúde e expectativa de vida dos animais que os consumiam.
É curioso que os tutores que ofereceram alimentos preparados em casa em pelo menos 50% da dieta, sendo que uma parcela bem pequena de tutores (<3%) ofereciam exclusivamente dietas preparadas em casa, tivessem preocupações e atitudes significativamente diferentes do outro grupo. Então, pode-se supor que, com a busca crescente por alimentos mais saudáveis, esses tutores foram mais propensos a oferecer alimentos industrializados alternativos, como os mais naturais. Isso porque as indústrias têm trazido cada vez mais praticidade aliada à saúde, optando por ingredientes mais naturais, garantindo composições balanceadas e seguras, com níveis nutricionais bem estabelecidos para as espécies, e enriquecidas com muitos nutrientes funcionais, além de contar com fórmulas estabilizadas com antioxidantes naturais.
Contudo, o reconhecimento de como as percepções podem diferir entre os donos de animais de estimação, em relação à dieta adequada e manejo alimentar de seus pets, é uma consideração importante para os profissionais de saúde veterinária. Por exemplo, uma possível razão para que o tutor opte por alimentos não industrializados, é o prazer obtido ao preparar a comida do seu pet, e ter essa perspectiva pode influenciar potencialmente as afirmações que ele faça sobre qualidade e variedade dos ingredientes presentes nos alimentos industrializados.
Além de fatores emocionais, esse tutor também tende a afirmar que seu pet precisa de uma variedade de alimentos ou de uma dieta baseada em carnes. Muitas vezes, o desejo de alimentar animais de estimação como membros da família e a crença de que alimentos de consumo humano são melhores, são duas hipóteses que também podem impulsionar suas escolhas. Mas um ponto importante é que a qualidade das informações que os tutores obtêm por meio de fontes de pesquisas, como a internet por exemplo, é bastante variável e pode ser fortemente enviesada para incentivar uma prática alimentar específica e que pode não ser adequada ao pet.
Estudos recentemente publicados vêm alertando sobre receitas caseiras prontas encontradas na internet, pois ao serem investigadas mostraram que não atendem aos níveis nutricionais recomendados de todos os nutrientes avaliados. Por isso, muitas vezes é necessário corrigir percepções errôneas dos tutores ou direcioná-los para as fontes confiáveis de informação, sobre nutrição de cães e gatos. Isso pode ajudar a dissipar as preocupações e na negociação de quaisquer modificações dietéticas, seja para uma dieta industrializada ou para uma dieta caseira devidamente balanceada.
Assim, entender “como” e “o que” os tutores escolhem para alimentar, bem como os comportamentos e atitudes que podem influenciar essas escolhas, facilita a comunicação. Como os tutores, tanto de cães como de gatos, confiam nos médicos veterinários para fornecer conselhos nutricionais sólidos, também é importante que estejam preparados para discutir as preocupações que os tutores possam ter sobre os alimentos industrializados, especialmente quando o inquérito alimentar revelar que o pet recebe uma dieta desbalanceada.
Michel, Kathryn E., et al. “Attitudes of pet owners toward pet foods and feeding management of cats and dogs.” Journal of the American Veterinary Medical Association 233.11 (2008): 1699-1703.